segunda-feira, 23 de dezembro de 2013


Ela veste preto, mas o baile é em Paris. Cap. 03

“Há dias em que o mundo gira ao contrário, mesmo sem voltar no tempo. Há dias em que deveríamos desligar os sentimentos.”
Diário da Viagem de Dora. (D.D).



– Será que ele sabe no que tá se metendo! – sussurra Romeo desacreditado no que vê. – O cara se diz o melhor detetive de New Park e cai numa furada dessas...
O rapaz não sabia se atravessava a rua para entender o que se passava ou deixava rolar até onde desse. Decidiu minutos depois que interferiria no improvável encontro, estava prestes a fazer isso, se não fosse pelo táxi que pegaram e sumiram sem deixar rastro.
– Droga! Pra onde foram aqueles dois? Eu não tenho dinheiro pra táxi e metrô vai demorar uma eternidade! Preciso contar o que tá rolando pro Alonso antes que aconteça uma tragédia! – grita o garoto em plena praça no centro de Paris correndo de volta ao hotel.

Música – Jack White – Love is Blindness – O amor é cegueira

O amor é cegueira, eu não quero ver
Você não vai embrulhar a noite em volta de mim?
Oh, meu coração, o amor é cegueira.

Em um carro estacionado, em uma rua movimentada
Você vê o seu amor fez completa.
Tópico está rasgando, o nó está deslizando
O amor é cegueira.

No hotel, Dora e Alonso ainda discutem o destino da indesejada família real.
– Minha mãe nos convidou para um café da manhã que será também uma espécie de encontros às cegas! Claro, uma forma de me fazer engolir a Sofi! Mas você aparecerá deslumbrante e acabará com os boatos e cismas dela! – berra o príncipe empolgado.
– Como assim, amor? Nem parece que passamos essa noite horrível de horas atrás! – admira-se Dora.
– Você disse bem, já foi! Agora vamos pensar no futuro antes que não haja nenhum... Dona Corália reuniu toda imprensa nesse encontro com a desculpa da breve passagem da realeza baviense por Paris. Mas ela só quer desmoralizá-la perante meus olhos, a envergonhando pro reino e pro mundo, te tirando do páreo pra sempre, eliminando...
– Já entendi! – grita a moça histérica interrompendo as cobranças de Alonso. – Meu Deus! Como posso dar conta disso? – pergunta aterrorizada.
– Ah! Meu amor... Você dará... É tão forte e poderosa, mas nem se dá conta da luz que te cerca e encanta todo mundo que toca! – defende o garoto deslizando os dedos pelos cabelos de Dora.
– Pelo jeito nem todo mundo... – brinca a menina.
– As pessoas certas... – cochicha o namorado.
– Pode deixar! Sua namorada estará lá na hora marcada, sem atrasos, linda e majestosa juntamente com a acompanhante e amiga inseparável! – responde Mell intrometendo-se no convite da colega.
– Claro Mell! Conto com sua ajuda nessa missão bombástica! – diz Alonso rindo do modo torto que a garota achou de ir ao evento.
Ambas se despediram dele indo atrás de produção urgente que Mell jurava saber onde encontrar. O tempo passou rápido destacando no relógio o horário do Café da Manhã as Cegas.

O amor é relógio e aço frio
Dedos muito entorpecer a sentir.
Aperte o punho, soprar a vela
O amor é cegueira.

O amor é cegueira, eu não quero ver
Você não vai embrulhar a noite em volta de mim?
Oh, meu amor,
Cegueira.

– Onde está Sofi? Ela não estava tão interessada em sentir a vibe da cidade luz? – indaga Alonso estranhado o sumiço da condessa víbora.
– Querido, ela está se produzindo pra você! Quer mostrar o que é uma dama de verdade... Coisa que parece que você já esqueceu levando em conta suas novas companhias! – responde Dona Corália com repulsa na voz.
– Papai como o senhor aguenta e aprova essas coisas que a mamãe diz? Ela perdeu a noção do ridículo!
– Meu filho! Me calo e deixo que impere a falta de senso! Com o tempo você verá que só assim se sobrevive a um casamento sem enlouquecer... E antes que conteste, não é só com ela, mas todas as mulheres! – diz o pai conformado entrando em seguida.
– Sou capaz de qualquer coisa pra não ficar como o Senhor Inaldo! Dora, você vai ter que me salvar disso! – fala o moço irônico e nervoso com os acontecimentos.


Uma pequena morte sem luto
Nenhuma chamada e sem aviso
Baby, é uma ideia perigosa
Que quase faz sentido.

Na hora marcada, um Bentley preto de vidro fumê encostava-se à porta do salão para deixar duas adoráveis damas desconhecidas. A impressa se alvoroçou para pegar o melhor ângulo investindo no que poderia ser a capa dos tabloides semanais.
Logo, ambas desceram do carro se revelando com belos vestidos matinais de luxo. A primeira vestia branco tomara que caia de renda, sandálias discretas e coque no cabelo. Já a segunda usava uma blusa preta combinando com a saia pregueada branca com um leve coberto preto, coque de laço, sapatos finos bicolores e uma bolsa de mesma cor combinando.
Alonso, assim como todos os outros presentes, parou para olhá-las. Nunca estiveram tão apresentáveis como naquele dia. O nível do jogo havia se elevado, elas deixaram as mocinhas e projetos de New Park para trás, nascendo ali damas de verdade.
– Mell não brinca em serviço... Nunca mais vou desconfiar dela quando prometer algo surpreendente! – brincou o príncipe indo buscá-las.
– Não mesmo... Pelo menos quando o assunto for moda, pode confiar nessa cabeça oca pra sua agente secreta! – diz Dora mexendo com a amiga em estado de graça.
Nem bem pisaram no salão, Dona Corália foi sequestrá-la para o encontro ás escuras que tanto havia falado. Mell aproveitou a deixa para reparar e imitar as celebridades que chegavam a todo o momento.
– Tudo bem pra você esse negócio de encontros da sua mãe? – quis saber a menina indignada.
– É só brincadeira beneficente! Começa assim e termina com todo mundo dormindo de tão monótono que é... Super sem graça! – respondeu o garoto tranquilamente.
– Já que tá tudo certo vou buscar inspiração por aí... Como você consegue ficar normal sabendo que nessa mesma sala estão atores, socialites, jogadores consagrados e mais gente que muitas pessoas matariam pra ver de pertinho? – perguntou Mell babando.
– Você disse bem... São gente como nós! Pessoas em vantagem por serem o que são, mas tão humanas quanto nós. Por isso cuidado com elas! – alertou o rapaz piscando para a amiga que decidiu arriscar.
Na sala de encontros as moças estavam de um lado e os rapazes de outro, protegidos por vidro fosco de onde era possível ver apenas o vulto do oponente.
– Você fica aqui! Separei a mesa cinco especialmente pra você! – diz a mãe de Alonso como quem já havia preparado o pretendente que tiraria a oportunista do caminho de seu filho.
Dora sentou e esperou pelo misterioso encontro quando ouviu a cadeira se mexer do outro lado do vidro.
– Olá, bom dia! – cumprimentou a voz.
– Bom dia! – devolveu a menina pouco interessada.
– É a primeira vez que você vem a essas reuniões? – quis saber curioso.
– É sim! Por quê? – perguntou mais animada.
– Porque pela entonação da sua voz parece que vai há uma todo dia! – brinca.
– Hahaha! Não, é mais complicado que isso! – explica docemente.
– Entendo! Coisas do coração... Você ama quem não te ama, mas parecia amar. Aí tudo fica esquisito demais pra voltar pra zona da amizade!
– Estranho...
– O quê?
– Não! Eu não te chamei... Só achei muita coincidência essa história e você me contando... – fala Dora compulsivamente até cair em si respirando profundamente e cortando gélida após perceber o fato. – Hei! Hei! Rapaz... – chama desesperada sem obter resposta permanecendo na mesa sem explicação pro que acabou de acontecer.

O amor está se afogando em um poço profundo
Todos os segredos, e ninguém para contar.
Pegue o dinheiro, querida ...
Cegueira.

– Chateada com o encontro anterior? Me deixa corrigir isso! – sussurra novamente outra voz vinda de trás do vidro.
– Quem é você? – indaga a garota na defensiva.
– Só um cavalheiro tentando alegrar uma senhorita que precisa esquecer todo mal que fizeram a ela! – respondeu o vulto irônico gesticulando.
– Ah, é! E como você sabe que me fizeram tão mal? – devolveu Dora tremendo.
– Coisas assim não podem ser escondidas... Ficam na gente! Amostradas em pequenos gestos, se soltam nos sorrisos falsos, exalam da alma junto com as palavras... – dita calmamente a face obscura reavivando os sentimentos guardados no interior dela.
A jovem estava perdendo o controle que recentemente havia recuperado, levantando da cadeira prestes a explodir de dor por tudo que se passava novamente na cabeça, dominando-lhe o corpo quase que por completo.
– Espera! Quero te dar um presente! – ordena o misterioso pretendente.
No salão, Sofi atrasadíssima se juntava a Alonso.
– Nossa! Que demora! Não é do seu feitio se atrasar assim pra dar o bote... Achei que você havia resolvido simplificar nossas vidas indo aplicar o golpe em algum trouxa desavisado! – cumprimentou o príncipe implacável.
– Pois se enganou! Não desisto fácil daquilo que eu quero... Sua resistência só me motiva mais ainda, honey! – devolveu irônica sorrindo para as fotos que não paravam de ser clicadas.
Nesse momento, Leo Turner invadiu o evento quase sendo barrado pelos seguranças.
– Pode deixar! – gritou Alonso para liberar passagem. – O que você está fazendo aqui, cara? Pensei que essa não fosse a sua! Se queria um convite por que não me pediu? – perguntou Alonso intrigado.
– Não fazia a mínima ideia desse lugar! Quanto mais que viria parar aqui... É que ingenuamente estava tentando descobrir a casa da minha namorada pra mandar um presente, seguindo-a. Imagine a minha surpresa quando ela entrou no nosso hotel, um tempo depois saiu toda produzida e agora está na minha frente, numa festa granfina acompanhada por você! – berra o detetive indignado. – Muito esquisito... Um recorde na escalada social pra alguém que nem podia pagar o aluguel! – continua o rapaz chamando a atenção de todos.
Pouco depois, Romeo voa todo desgrenhado para dentro da atração transformada em circo jogando desculpas no ar.
– Alonso, me desculpe! Só vi essa manhã... Se soubesse antes teria avisado você! Vocês dois... Teria avisado todo mundo do que essa maluca é capaz! – grita inconformado por ter chegado tarde demais.
– E você não fala nada, Adele? – indaga Leo dilacerado com a descoberta.
– Adele? Mas ela se chama Sofi... – respondeu Alonso.
– Isso mesmo! Sofi, Condessa de Ordália! Desculpe se menti e quebrei seu coraçãozinho... Eu precisava pra atingir meus objetivos! Senão, como ia saber o que acontecia na vida mais ou menos do meu amado príncipe... Não foi nada pessoal... – explicou a garota mimada rindo e fazendo beicinho.

O amor é cegueira, eu não quero ver
Você não vai embrulhar a noite em volta de mim?
Oh, meu amor,
Cegueira.

A discussão continuaria se não fosse o estrondo que ocorreu no fundo do salão. Quando os convidados viraram se depararam com Dora enterrada no meio da mesa dos quitutes do café da manhã. Estava coberta de bolos, doces e chás dispostos em cima de toalha e louça inglesa quebrada. O vestido encharcado perdeu-se, seus olhos vazios quase não representavam vida, todo o corpo estava inerte a não ser pela mão petrificada segurando um cartão vermelho que trazia uma breve mensagem.

– “As férias acabaram! Nosso jogo recomeça aqui!” Ass. R. 


Música do Episódio:


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